quinta-feira, 15 de abril de 2010

A Relação Entre o Aparelho Policial e os Cidadãos Que Compõem a Classe Trabalhadora

Quarta-feira, 18 de março de 2009, 21:08:15
Atualizado: 15 de abril de 2009, 21:05:53

Por: Lauro Araújo

A relação entre oprimidos e opressores jamais poderá ocorrer de maneira harmoniosa, pois o primeiro tem por finalidade inverter ou extinguir simplesmente a situação na qual se encontra, enquanto o segundo possui o objetivo de impedir que tais interesses sejam alcançados.

O histórico de convivência entre a sociedade civil e o aparelho policial é marcado por conflitos, sejam eles de natureza física ou ideológica. No entanto deve-se enfatizar a condição de vulnerabilidade que a sociedade civil se encontra pelo fato de não possuir condições de assistência jurídica e nem aparatos bélicos. Ou seja, é um confronto que ocorre de maneira desigual, onde os cidadãos das classes subjugadas são oprimidos, sofrendo desde constrangimentos até atentados contra a própria vida, sem que possam se defender contra essas manifestações de violência.

Os princípios da democracia não são aplicados na vida prática, o Estado demonstra seu conservadorismo ao utilizar o aparelho de “segurança” como instrumento para repremir às reivindicações de determinados setores da sociedade. Assim sendo os representantes do setor de segurança pública possuem dificuldades em assumir violações aos princípios que constituem os direitos humanos. Dentre essas violações deve-se destacar o uso excedente da força e as agressões verbais. Quando alguns desses abusos são admitidos, o Estado se resguarda em teorias históricas fundadas em estereótipos e dogmas, legitimando dessa maneira o abuso cometido em suas ações. Ou seja, transformando a vítima em um criminoso em potencial, que poderia, ou melhor, viria a cometer algum ato de delinquência.  

Há uma grande distancia entre a sociedade civil (em especial os indivíduos que compõem a base da pirâmide social) e a polícia (que é o aparelho repressor de relação direta com a sociedade). Decorrente desse distanciamento o contato entre ambos tende, quase sempre, ao desenvolvimento de conflitos. A intervenção da polícia numa manifestação de protesto não se dá para apoiar o ato realizado, mas sim para garantir que a “harmonia” volte a prevalecer.

Atualmente as instituições policiais realizam projetos cujo objetivo é aproximar a sociedade civil, e com a mesma desenvolver um relacionamento harmonioso. Os representantes da categoria policial que se dispõe a realizar tais debates possuem como meta consumar a teoria que afirma que o objetivo do aparelho policial é garantir a segurança do cidadão. No entanto a própria instituição sente dificuldades, pois há hábitos arraigados, os quais contribuem para reafirmar a concepção de instrumento violento usado pelo Estado para oprimir.

“A polícia representa o resultado da correlação de forças políticas existente na própria sociedade. No Brasil, a polícia foi criada no século XVIII, para atender a um modelo de sociedade extremamente autocrático, autoritário e dirigido por uma pequena classe dominante. A polícia foi desenvolvida para proteger essa pequena classe dominante, da grande classe de excluídos, sendo que foi nessa perspectiva seu desenvolvimento histórico. Uma polícia para servir de barreira física entre os ditos "bons" e "maus" da sociedade. Uma polícia que precisava somente de vigor físico e da coragem inconseqüente; uma polícia que atuava com grande influência de estigmas e de preconceitos.” (Extraído do texto A transição de uma polícia de controle para uma polícia cidadã)

Creio que esse trecho do texto, seja útil para que possamos ter uma noção de como surgiu nossa polícia e refletirmos se tais objetivos persistem. Algo que podemos e devemos usar pra nossa avaliação são as estatísticas de agressões aos jovens moradores de periferia, sobretudo os de grupos sociais estereotipados como marginais. Creio que não haja critério melhor para que possamos chegar a uma conclusão coerente.

O aparelho policial desperta sentimentos antagônicos na classe trabalhadora. São eles o medo e a segurança, porém o que se apresenta em maior proporção é o primeiro. Os moradores de comunidades carentes já não conseguem distinguir a quem devem temer - se é à polícia ou aos indivíduos que se encontram a margem da lei. Lamentavelmente, quem mais sofre nessa situação é a classe trabalhadora, por se tornar refém dessa complexa relação e acabar aceitando tudo que lhe feito e todos os tipos de violações, pois desconhecem seus próprios direitos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário