quinta-feira, 13 de maio de 2010

Falsos (Pseudos) Intelectuais

Criado: Domingo, 1 de março de 2009, 10:27:33
Modificado: terça-feira, 11 de maio de 2010, 16:37:55

Lauro Araújo


O conhecimento sempre possuiu muito valor na sociedade, assim como também era e permanece sendo privilégio de poucos. Esse fato é comprovado quando realizamos uma analise simplória no decorre do desenvolvimento da humanidade. O conhecimento criado e aprimorado significa poder. Aos que conseguiam desenvolver o intelecto cabia usá-lo para dominar os demais que eram carentes de tal “dote”, assim foi em tempos passados, tal tática ainda prevalece nos dias atuais.

No decorrer da evolução social, houve o aumento no número de demandas e assim a necessidade de trabalhadores mais capacitados, houve então uma ampliação no campo educacional, mas que não priorizou o a aprimoramento intelectual de toda a sociedade.

O acesso aos grandes Centros acadêmicos ficava restrito aos burgueses, que detinham poder aquisitivo e influencia política, no entanto com o avanço do capitalismo e o princípio do que podemos denominar de “processo de globalização”, amplia-se também o campo educacional para o grupo que ocupa a base da pirâmide social, porém deve-se enfatizar que se tratava de uma formação carente (débil), cuja finalidade era capacitar os sujeitos para realização de tarefas simples, limitando-o assim a permanece em um estado de estagnação social. Esse projeto educacional como se pode perceber ficou limitado a capacitar os cidadãos a atividades trabalhistas, ou seja, para condicionando-os a simples mão-de-obra.

Esse modelo de educação não ocasionava problemas na estrutura social, mantendo assim a ordem vigente. Os dogmas, tabus e mazelas sociais permaneceram e são temas dos quais nós não cogitarmos debates ou realizamos qualquer tipo de conjectura. Os embasamentos para defesa de tal questão são concepções religiosas, valores morais desenvolvidos pela burguesia, enfim mecanismos que impedem um senso-crítico.

Na sociedade contemporânea é evidente a existência dos frutos desse modelo educacional adotado em outros períodos. Percebe-se também que esse modelo ainda é seguido, no entanto de maneira ‘‘menos’’ excludente. Houve-se a universalização do ensino fundamental e médio, diga-se de passagem, um ensino precário e em estado de decadência. No entanto o acesso ao centro-acadêmico onde são travados debates mais aprofundados sobre temas diversos continua sendo restrito a poucos. Como não temos um número considero de sujeitos recebendo formação, logo não podemos ampliar o debate para as camadas mais populares da sociedade, fazendo com que país não desenvolva economicamente e culturalmente.

A limitação do acesso aos centros acadêmicos leva ao monopólio do conhecimento, permitindo que a classe dominante desenvolva teorias que justifiquem o poder que detém. Isso contribui para que a universidade permaneça sendo acessada por poucos. Um ciclo vicioso que privilegia aqueles que visam que a ordem da estrutura social não seja abalada.

Podemos notar que a formação é realizada no sentido de capacitar os profissionais para que obtenham bons desempenhos em suas áreas de atuação. Mas esse modelo de formação não é capaz de forma indivíduos cuja capacidade de sensibilidade seja grande, possibilitado uma convivência harmoniosa em sociedade. São ‘‘intelectuais’’ que não possuem coerência ideológica, são defensores e criadores de dogmas, que se consideram senhores da verdade.

A convivência no âmbito acadêmico e a necessidade de obter informação dos assuntos cuja responsabilidade lhes são atribuídas, permite que esses indivíduos adquiram um nível de linguagem técnica considerável, no entanto o raciocínio crítico é desenvolvido, na maior parte das vezes, de maneira deficiente.

É preocupante o que presenciamos atualmente em relação à postura de muitos acadêmicos, pois, os mesmos, expressão opiniões sobre temas dos quais possuem informações superficiais ou nenhum conhecimento, então opiniões errôneas são expostas e situações conflitantes ocasionadas.

Grande parte dos sujeitos que são freqüentadores dos centros-acadêmicos compartilham/defendem as concepções ideológicas desenvolvidas pela parte burguesa da sociedade. Concepções essas que fortalecem os estereótipos e possibilita o desenvolvimento e manutenção dos mecanismos de controle. Em especial o ideológico que é capaz de ocasionar rupturas nos diversos setores da sociedade. É a pratica da estratégia de dividir para conquista, que não se torna ultrapassada, ao contrário se mostra eficiente.

O Brasil é um país formado por uma maioria ignorante. No qual não se tem a garantia ao acesso à educação, a saúde, o trabalho, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, e a assistência aos desamparados, a habitação. Nenhuma das demandas apresentadas quando atendidas é de forma satisfatória.

A falta de prestação ou a má-qualidade dos serviços apresentados acima é um reflexo da debilidade em nossa formação escolar, que não possibilita maior nível de conhecimento, para que se possa exigir melhoramento na qualidade. Os problemas apresentados tornam-se mecanismos de restrição para o ingresso e permanência no universo acadêmico, dos sujeitos que são afetados por tais problemas.

Deparando-se com tal realidade, poucos são os que conseguem ter acesso a universidade e por esse motivo consideram-se superiores, tornando-se comum assumir uma postura de prepotência, arrogância e por fim o menosprezo daqueles que possuem o conhecimento popular ou mesmo os que são autodidatas, visto que consideram que o desenvolvimento intelectual se dá apenas nos centros acadêmicos. Alguns indivíduos oriundos da classe operária, após realizarem a formação tornam-se inimigos da mesma e passam a compartilha das opiniões da burguesia.

A intenção desse texto não é desvalorizar os centros acadêmicos, mas enfatizar o fato de que a consciência crítica pode ser construída e desenvolvida por indivíduos que não freqüentam as faculdades e universidades, a exemplo do grande líder negro Malcolm X, que foi capaz de desenvolver seu nível intelectual sem nunca ter freqüentado os centros acadêmicos, sendo um dos mais respeitados homens dos Estados Unidos da América. Devo ressaltar também o saber notório, título que muitos intelectuais possuem. Considero que o pensamento-crítico é desenvolvido com maior qualidade quando livre da pressão de alguns docentes.

Deve ter a consciência que o termo conhecimento é algo de significado amplo, que não se adquire apenas nos centro acadêmicos. O conhecimento acadêmico inclui-se dentre as muitas outras categorias de saberes.

É preciso que os “intelectuais” tenham a capacidade de realizar autocrítica, sobretudo para que não reproduzam conceitos estereotipados, fortalecendo e legitimando dessa maneira as discriminações que são tão comuns.

Se no passado o conhecimento ficava retido aos mosteiros e abadias, hoje o ensino de qualidade se mantém em mãos burguesas. A formação que recebemos é para nos capacitar como simples mão-de-obra. Os meios de comunicação em massa são ferramentas de grande importância para que possamos amenizar os abismos causados por essa formação debilitada. Temos que realizar o processo de auto-formação e possuirmos a capacidade da auto-crítica para assim podermos amadurecer.

Intelectualidade é possuir capacidade critica e não títulos acadêmicos.